
Em Salvador, no dia 17
de janeiro, um marinheiro foi assassinado a facadas durante um assalto. Logo
nas primeiras informações, falou-se em reação da vítima, versão que o criminoso
confesso, depois de preso, ratificou. O bandido fez mais, declarando que não
poderia ter agido diferente, pois “não se reage a um assalto”. A cobertura de
um dos maiores jornais locais destacou exatamente o “aviso” do criminoso,
colocando-o na capa da edição de hoje (20/01).
Esse duplo padrão de
abordagem de nossa violência evidencia o quanto os valores sociais estão
deturpados, verdadeiramente invertidos. Ele passa ao leitor das duas notícias uma
mensagem clara: reagir a uma abordagem policial pode, a um assalto, não. É uma
postura que vem sendo responsável por justificar a ação dos criminosos, jogando
na vítima a culpa por ter sido morta, ao mesmo tempo em que demoniza a polícia,
sobre a qual qualquer ação inicialmente é suspeita de abuso, mesmo que no
estrito exercício regular de direito.
O relevante papel da
imprensa precisa ser exercido com responsabilidade. A reação da vítima não é um habeas corpus automático para o criminoso e muito menos torna sua conduta legítima. Ao se transmitir a ideia
contrária, há uma condenável absolvição moral de quem mata por qualquer razão,
pondo o bandido como vítima e o cidadão – ao lado da polícia – como algoz.
Se é para não reagir em
alguma situação, ela é durante uma abordagem policial. É a polícia que
representa o Estado e é dele que podem vir as atuações repressivas e punitivas,
jamais do criminoso, a quem não é dado punir alguém que simplesmente não
aceitou ser roubado.
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